Não é apenas o desejo de amar que é tocante nos personagens desvairados dos filmes de Cassavetes, é por sentir que o que dizem e como se movem não é fruto de uma loucura mas apenas um sinal de alguém que se atira à vida e ao amor com tudo o que tem, com as portas todas abertas para o desejo de amar e ser amado. É essa a verdadeira paixão - que cada aproximação e cada afastamento são fruto de um laço que é criado com o outro a partir do momento em que se olha para ele, não para usá-lo ou usufruir de algo mas para amá-lo pela pessoa que é, grande, frágil e zangada. A dedicação é algo que não falha nestes filmes e que não falha no amor que Cassavetes estabelece entre essas pessoas. Não há tempos mortos, não há pessoas que se servem umas às outras (e as que o fazem são os vilões - os bandidos em The Killing of a Chinese Bookie). O marido de Mabel em A Woman Under the Influence pode não entendê-la e dar-lhe tudo o que ela precisa, mas no meio daquelas pessoas todas, é ele que a ama como tudo e com tudo, para além de toda a frustração e do abismo que a presença da sua mulher dá à sua casa (também ela com toda a dedicação). É tocante ver o amor assim, um amor que segue e que não pára nas primeiras fricções e nos primeiros choques - usa-os e cresce como enorme monumento feito para a expressão destes rostos e a vida destas pessoas. O amor total será isso - under the influence, embriagados de amor. E o amor incondicional é aquele que sabe ser o elemento mais importante entre todas as coisas que se colocam entre nós.
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