Saio de Inglourious Basterds com uma grande sensação de prazer. É a vingança sobre os nazis e a sequência scarfaciana de vê-los todos a serem chacinados como merecem que me põe assim? Não necessariamente, embora o destino que é entregue ao tirano louco do terceiro reich e o seu companheiro da propaganda mereça só por si outra conversa.
O prazer que levo comigo é a da vingança das imagens. Na sequência central do filme, não são só uma cambada de loucos nazis que morrem como Tarantino gostaria que tivessem morrido - são todos os filmes de lixo que populam o imaginário espectacular, contemporâneo, imediato e digitalizado que ardem pelas cortinas da sala acima. O nitrato da película que arde mais depressa que papel ou que um disco rígido, o facto de se morrer por amor numa sala de cinema para mostrar a outros que se o cinema existe, é para ficarmos presos dentro da sala e sofrer com o que se projecta, e que se o cinema por vezes pesa como o peso da consciência, é porque temos a prova que somos humanos e que as imagens que nos fazem merecem o respeito que elas pedem.
Por isso, a chegada do anjo exterminador no meio de uma sequência interminável de planos repetidos, feitos para um público que os pediu, é a mensagem derradeira do cinema aos seus espectadores: as imagens não existem porque nós queremos, existem porque nós somos, e a sua manipulação merece o ajuste de contas com qualquer história.
Para além disso, é ter o prazer de saber que ainda se fazem filmes que foram escritos ao longo de uma década, os diálogos respiram esse tempo e respiram a inteligência e revisão de um grande escritor. As inúmeras referências cinéfilas que surgem no filme não como acessório, não para preencher o vazio, mas como referência também ela histórica de um dia-a-dia e de um imaginário, lembro-me agora de Hitchcock e Henri-Georges Clouzot, Selznick e Churchill juntos na mesma cena (como a política é, mais que nunca, produção, e vice-versa), Dietrich e Pabst, Renoir e Lang, e no início do filme, Leone, bem marcado, e John Ford, naquele plano imediatamente reconhecível da porta (e nos americanos "índios"), quando o dito anjo foge por ela, e em vez de vermos Wayne, vermos, desta vez, um outro caçador com uma outra alcunha.
É esse o meu prazer. Que o cinema é uma arma porque é feito de imagens, e que as imagens têm um valor angelical e de exterminação. Ainda temos realizadores para fazê-lo, guerreiros como Tarantino, que se lançam num filme como se lançam numa guerra, como Fuller dizia.
E as fontes, logo quatro ou cinco só no início, são outro pequeno brinde para famintos de imagens como eu.
O prazer que levo comigo é a da vingança das imagens. Na sequência central do filme, não são só uma cambada de loucos nazis que morrem como Tarantino gostaria que tivessem morrido - são todos os filmes de lixo que populam o imaginário espectacular, contemporâneo, imediato e digitalizado que ardem pelas cortinas da sala acima. O nitrato da película que arde mais depressa que papel ou que um disco rígido, o facto de se morrer por amor numa sala de cinema para mostrar a outros que se o cinema existe, é para ficarmos presos dentro da sala e sofrer com o que se projecta, e que se o cinema por vezes pesa como o peso da consciência, é porque temos a prova que somos humanos e que as imagens que nos fazem merecem o respeito que elas pedem.
Por isso, a chegada do anjo exterminador no meio de uma sequência interminável de planos repetidos, feitos para um público que os pediu, é a mensagem derradeira do cinema aos seus espectadores: as imagens não existem porque nós queremos, existem porque nós somos, e a sua manipulação merece o ajuste de contas com qualquer história.
Para além disso, é ter o prazer de saber que ainda se fazem filmes que foram escritos ao longo de uma década, os diálogos respiram esse tempo e respiram a inteligência e revisão de um grande escritor. As inúmeras referências cinéfilas que surgem no filme não como acessório, não para preencher o vazio, mas como referência também ela histórica de um dia-a-dia e de um imaginário, lembro-me agora de Hitchcock e Henri-Georges Clouzot, Selznick e Churchill juntos na mesma cena (como a política é, mais que nunca, produção, e vice-versa), Dietrich e Pabst, Renoir e Lang, e no início do filme, Leone, bem marcado, e John Ford, naquele plano imediatamente reconhecível da porta (e nos americanos "índios"), quando o dito anjo foge por ela, e em vez de vermos Wayne, vermos, desta vez, um outro caçador com uma outra alcunha.
É esse o meu prazer. Que o cinema é uma arma porque é feito de imagens, e que as imagens têm um valor angelical e de exterminação. Ainda temos realizadores para fazê-lo, guerreiros como Tarantino, que se lançam num filme como se lançam numa guerra, como Fuller dizia.
E as fontes, logo quatro ou cinco só no início, são outro pequeno brinde para famintos de imagens como eu.