29.9.09

Moi, je suis définitif.

Há pessoas que dizem ou gostam de dizer às vezes que sou parecido com Jean-Pierre Léaud. Eu às vezes digo ou gosto de dizer que há pessoas que dizem que sou parecido com Jean-Pierre Léaud.
Não conheço muito Léaud - não sei se alguém conhece muito este actor misteriosíssimo, quase vindo do cinema mudo - mas conheço bem algumas coisas de Doinel. Os cortes fáceis e abruptos, as correrias de um lado para o outro, a vivência de um personagem sempre apaixonado que não sabe bem por quem se apaixonar, alguém, por outro lado, paciente, muito paciente com o amor. Em Baisers Volés, ele espera um ano ou mais por Christine, por momentos finge ser duro com a falta de iniciativa dela perante a sua presença, mas sabe que basta um novo reencontro para se encontrarem de novo um ao outro.
Depois de ver e rever este filme, passam várias coisas muito depressa pela minha cabeça. Pequenas emoções e lembranças que nos fazem pensar que a vida é muito rápida e o amor ainda mais. É muito fácil vivermos a correr e amarmos a correr. Doinel farta-se de correr e no fim olha muito para trás. Truffaut tem a sensibilidade suficiente (e enorme) para saber mostrar-nos como nenhum outro que a vida, nesse ponto, é tanto doce como insuficiente para o que procuramos. Daí a importância de sabermos amar: as pessoas, os gestos, os filmes. E o desejo de sentirmos o provisório como a grandeza dos momentos definitivos.

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