Ouvi ao longe a música quando entrei em casa. Um quarto imenso de janelas largas e grandes, tapadas à vista exterior dos vizinhos sozinhos que não espreitam. Foi como se já estivesse sentado a olhar para aquilo que viria, como se me visse já deitado a olhar para cima, à espera que os meus pensamentos desaparecessem com o som do disco. Como se as notas levassem todas as palavras comigo e me deixassem só, sem outros gestos ou decisões finais para acabar o dia. Prefiro que o dia não acabe, prefiro, bem fundo na minha vontade, que o dia me leve com ele e me deixe sempre quieto, imóvel perante a noite. Quando a agulha não preencher a casa com mais música e ficar apenas na repetição dos seus batimentos, já terei partido para o sítio em que fui pensando desde que saí de casa de manhã e fui andar entre as pessoas. Nesse momento, já terei sido eu, sem perseguição e falas, concentrado num outro corpo onde perco os movimentos. E sem mais que dizer, deixo que o sopro da música substitua aquilo que já não é preciso dizer.
14.9.09
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