O tempo passa cada vez mais depressa a cada vez que vejo Les 400 Coups. Como quem cresce não só na vida mas também no cinema e na forma de ver filmes. Contudo, Truffaut é sempre tocante - traz-me sempre à cinefilia no seu sentido puro e juvenil, levando-me depois pelos seus filmes no crescimento dos seus personagens. Cresço com ele e vejo-me crescer. Saio da sala e olho para quem fui durante as duas horas. Poucos conseguem mostrar, em todo o tempo de um filme, aquilo que ingenuamente fomos, aquilo em que nos tornamos e na forma como nos veremos. Como disse o seu ciclo na Cinemateca: "a vida era o écran".
Sigo de novo Antoine até à sua última fuga (e que sinto sempre como minha), e lembro-me do que via quando ainda mal conseguia correr: todos os adultos são monstros. No filme, se o amor maternal já é por si um amor abortado, o adoptivo é sempre falhado, construído, falseado. Antoine acaba só, fugindo sempre à procura da vida, de "se fazer à vida", como diz, descendo Montmartre e Pigalle, na companhia do amigo que é quase irmão. Lembro-me também de inventar primos e família entre os amigos do meu mundo, declarando fidelidade eterna à amizade e à felicidade de termos alguém com o mesmo rosto jovem. Mas Antoine já é um adulto por não ter o que as crianças têm: o tempo. Chega ao mar, pára o passo na areia molhada e vira-se para mim. Sou eu que me pergunto: serei monstro ou estarei em fuga?
Sigo de novo Antoine até à sua última fuga (e que sinto sempre como minha), e lembro-me do que via quando ainda mal conseguia correr: todos os adultos são monstros. No filme, se o amor maternal já é por si um amor abortado, o adoptivo é sempre falhado, construído, falseado. Antoine acaba só, fugindo sempre à procura da vida, de "se fazer à vida", como diz, descendo Montmartre e Pigalle, na companhia do amigo que é quase irmão. Lembro-me também de inventar primos e família entre os amigos do meu mundo, declarando fidelidade eterna à amizade e à felicidade de termos alguém com o mesmo rosto jovem. Mas Antoine já é um adulto por não ter o que as crianças têm: o tempo. Chega ao mar, pára o passo na areia molhada e vira-se para mim. Sou eu que me pergunto: serei monstro ou estarei em fuga?