A tomar o pequeno-almoço num café da Graça, em Lisboa, estou rodeado de cartazes parisienses: Hôtel de Ville, Comédie Française, Robert Doisneau e a Madeleine. Termino a refeição e acabo rapidamente de ler a revista dos livros, um pouco como quem lê na internet. Já não estou sentado e já não ouço a Billie Holiday que me trouxe o primeiro amor. Um acordeão que toca as ruas de Paris mantém-me dentro do café, olhando para fora, por entre as suas portas abertas. Tal como em Paris, a entrada do café é toda uma esquina, a sua saída é uma imensa janela para a rua. Olho por ela e vejo a luz branca de Lisboa deitada sobre as fachadas. A música continua, o órgão melancólico rodopia e traz-me Paris como aquele movimento que se tem quando se anda de bicicleta sem pedalar, descendo uma rua de um só nome, levados pela nossa cidade como quem segue uma liberdade. Estou dentro de Paris, olho para Lisboa. Sei que tenho que sair do café e deixar de ouvir essa música. E que deixarei uma parte de mim lá dentro, sabendo que levo outra comigo. Bogart dizia: we'll always have Paris. E quando estou em Paris, sei que ofereço algo que talvez não ofereça à minha própria cidade. E por isso sinto, a cada vez: Paris will always have me.
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