Existe uma música escondida de Bob Dylan - uma das suas mais sinceras e verdadeiras, para além de todo o seu teatro (e que teatro), que o próprio escreveu mas nunca assumiu. Em Don't Look Back, vê-se o momento em que Joan Baez pega na música e toma-a como sua, ele que a escreveu para ela e a recusa, ela que toma e aceita. Dylan optou por ignorar essa música talvez por ser um passo pessoal - não um passo musical, mas um passo da sua juventude para a idade adulta. Foi aí que ele deixou de se preocupar com os outros e passou a pensar em si, um pouco como quem sente que aprendeu, e que está agora pronto para seguir fiel a si próprio. A música é um perfeito e tocante relato desse crescimento: a observação inexperiente e curiosa das pessoas e relações, o deambular por entre personagens e ouvir o que elas têm a dizer ("you probably didn't think I did, but I heard"), e como os seus actos e palavras, absurdos à partida por não os conhecermos, dão também as suas voltas nas mesas, acabando mais tarde por também serem servidas por nós aos outros. Que na verdade, crescer é viver com os outros e o que nos fazem, e quando já crescemos, somos nós que passamos as palavras que nos deram, agora verdadeiras e nossas. E como o amor é o cerne da vida, é o conjunto de passos que nós demos nele. E como conquistamos a vida quando conquistamos as palavras, também o amor se revira, para se tornar apenas numa palavra de quatro letras.
8.11.09
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