1.11.09

She's leaving home

Há muitas incompreensões e teorias erradas sobre a direcção de actores de Cassavetes. Penso que o mais correcto será dizer que Cassavetes não dirigia actores, dirigia emoções. Vejo um realizador clássico sentado com a sua actriz e falar-lhe do seu personagem, de uma história inventada com infância e relações falhadas para dirigir o seu aspecto e escolhas faciais durante o filme. Vejo Cassavetes sentado com os seus actores, bem perto deles, dizendo: não inventes uma história, não inventes um percurso, pega nas palavras e abre o teu rosto e coração, aqui deitamos e gritamos as emoções, passamos por cima delas e esquecemo-nos de nós, percebendo assim quem somos. É pelo menos assim que me sinto nos seus filmes: que não sabemos lidar com as nossas emoções e os nossos sentimentos, fazem-nos e prendem-nos, e que uma chamada solução é aceitar isso com a paixão que isso merece, e seguirmos, seguirmos, seguirmos... No fim desse caminho podemo-nos achar estragados e loucos, mas é disso que somos feitos.
Toca-me ver os seus personagens vivendo conscientemente nesses caminhos perdidos, ou melhor, feitos de algo que não se pode estruturar e descrever como um plano. São todos honestos, logo, amam todos e sofrem todos em igual medida. Usam a sua solidão, passam por cima dela e amam, porque é tudo o que têm. Porque no fundo, estamos com alguém porque estamos sozinhos, amamos alguém porque somos sozinhos, desamparados e carentes, rindo-nos daquilo de que somos feitos. E quando acordo de manhã, depois disto tudo, levanto-me e a primeira coisa que faço é ouvir a música mais sozinha do mundo, mas a música que toca mais fundo quando se fala de amor, a que me move durante o dia e me faz perguntar: o que é o amor sem a ausência?

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