26.12.09

Si c'est un homme

Em Un Conte d'Été, Rohmer coloca-nos um jovem que chega a uma praia sozinho e sai dela com três escolhas - leia-se três raparigas. Uma delas chega a dizer: "lembras-me um vagabundo que se tornou de repente num milionário". Rohmer tem a sensibilidade e inteligência dos que melhor percebem a complexidade dos jogos mais inocentes (em aparência) ou frívolos da existência humana. No fim de cada conversa, para além de toda a sensualidade daqueles corpos, das suas hesitações, das suas regras morais e dos seus olhares, estão os sentimentos de cada um deles. E quando cada um se sente usado, são eles que prevalecem, e cada jovem treme por ainda não ser um adulto.
E entre essas três escolhas, o rapaz acaba por se revelar o homem típico: entre cada uma das três hipóteses, acaba por decidir não escolher, sempre com a angústia táctica de ficar a perder todas e acabar sozinho. "Não gosto de provocar o acaso, prefiro que o acaso me provoque" - Rohmer também é tocante por fazer-nos perceber que não se trata tanto de um caso de cobardia masculina, mas sim por esta jogada se revelar, no fundo, na essência das decisões humanas entre relações e a descoberta do outro. Seguirmos por elas sem tomarmos decisões é retirar um pouco da sua neurose e um pouco da sua tristeza, pois sabemos que ela está lá se quisermos provocá-la. Talvez a vida seja melhor sim, falando ao andar como aqui sempre fazem, por aqueles travellings sem fim, nas doces conversas de quem sabe estar a jogar com a vida, à procura das suas regras. Sabemos que podemos amar e que podemos magoar, mas que a sinceridade e a sensibilidade é o que nos leva pelo acaso das relações quando menos esperamos. E que por muitos passos ou por todas as direcções, sabemos que teremos de chegar a algum lado.

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