4.12.09

Sobre a crise II

Há a crise dos números e do dinheiro que nos condiciona e nos torna num país mais pobre, mas há uma crise que nos move e que nos torna num país mais triste: é a crise dos sentimentos e da direcção deles. Quando passo pelo Cinema Quarteto, muito perto de minha casa, e vejo-o fechado há largos meses, ainda com aquela placa de letras grandes que diz "VENDE-SE" e uma série de números, vejo mais que o último dos cinemas desta cidade à venda, vejo todos os sentimentos que ali se suscitaram e se criaram em todos os seus filmes entregues a um vazio com que já ninguém se preocupa nem ninguém quer comprar. É mais que um cinema falido e abandonado, é um sinal que já ninguém procura imagens para os seus sentimentos, que já ninguém deseja saber o que é sentir pelo cinema. No fundo, que o cinema deixou de ser o veículo das nossas emoções, e que já não existe disponibilidade e tempo para elas. De tudo o que se vai falando em jornais e na televisão, é isto que me deixa mais triste que tudo.

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