8.4.10

As ilusoes

Teclado húngaro

Em viagem na Europa, venho parar quase instintivamente a Budapeste. Algo chamou-me até aqui: os filmes de István Szabó. Descobri A Idade das Ilusões na Cinemateca Portuguesa como filme ligeiramente perdido no meio do ciclo de uma década, sem saber ao que ia e sem me lembrar, ainda hoje, porque fui ve-lo. Vim da sessao tocado pela sua sinceridade e perdido como quem fica apaixonado: os dilemas do seu protagonista, comuns a qualquer jovem adulto - ou almas sensiveis -, eram os meus noutra cidade, noutro tempo, apenas unidos pela história do seu realizador e pelo modo como espelhavam sensacoes, imagens, paixoes, sentimentos e lutos. Por essa capacidade dos filmes tirarem tudo aquilo que julgávamos de morto dentro de nós, mas que ansiava por um espelho para os vermos como vivos que sao. O seu final, um enorme toque de despertador, era o toque que nos lembrava ser necessário acordar - o fim do questionamento, de viver na cidade e nas relacoes sem sabermos o que elas nos podem oferecer. E já no filme seguinte (Father), em que o mesmo (?) protagonista procura esclarecer a verdadeira história de vida do seu pai, idolo da sua vida, já surge um pouco mais de seguranca e de coragem, apesar dos caminhos ainda vivos desta cidade onde agora me encontro. E se vim cá ter, será talvez também para esclarecer, afinal, que ilusoes teremos para tamanho caminho que é a realidade da nossa vida. De onde, no fim, iremos tirar todo o nosso cinema.

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