16.5.10

Fahrenheit 451

Truffaut dá-me sempre aquilo que preciso - numa história plena de totalitarismo e de destruição, de censura dos sentimentos e alieanação dos corpos, como é Fahrenheit 451, a dualidade da mulher por quem o protagonista nutre os seus sentimentos é sempre tocante. Truffaut entendia, de facto, as mulheres, e a sua sensibilidade para elas está presente, como retrato e como homenagem, em cada um dos seus filmes. Felizmente, filmou Julie Christie, maravilhosa actriz cuja beleza irradia como o fogo deste filme, e que nos mostra tudo aquilo que uma mulher tem: a insegurança em casa que alterna entre a frieza e o desejo repentino de um outro corpo onde se possa esquecer, a mulher exterior cujo interesse nos faz querer seguir para onde quer que ela vá, tanto para casas fechadas como para terras abandonadas onde as pessoas são livros. A entrega de um homem que decide, acima de tudo, entender essa mulher e poder dar-lhe aquilo que ela precisa para viver - toda a lógica do amor. Tudo isso é o pequeno mundo humano que nos forma e o grande mundo cinematográfico de Truffaut que nos toca. As pessoas nunca foram tão bonitas como no seu cinema, e os sentimentos nunca tão bem respeitados como nas suas histórias e nos seus planos. Saio dos seus filmes amando, mais do que a vida, aquilo que ela pode oferecer, amando aquilo que nos faz enquanto pessoas e que nos leva sempre a caminho dos sentimentos. Amando todo esse mundo, amando toda essa pessoa.

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