17.6.10

Le Saint-André-des-Arts

O cinema Saint-André-des-Arts representa aquilo que é o pequeno (e grande) valioso templo de ideias do património francês: um cinema de "arte e ensaio", protegido pelos filmes que projecta para os seus espectadores, merecendo apoios e vantagens dignos dos filmes que passa. Sim, há países assim, em que as pessoas defendem o seu direito em apoiar algo como isso.
Tive a sorte de viver na "zona cinéfila" de Paris, onde esse cinema se encontrava. Ficava precisamente na rue Saint-André-des-Arts, em Saint-Michel. Os outros cinemas também existiam a poucos metros de distância, mais perto da Sorbonne, entre a rue des Écoles e a rue Champollion, a curta e estreita rua que se percorria em menos de um minuto mas que tinha 4 cinemas diferentes. E depois, em Saint-Germain-des-Prés, na rue Christinne, o cinema Action onde eu ia mais vezes - o cinema norte-americano todo dos anos 40 e 50, os ciclos de autores para os hitchcock-hawksianos. No Saint-André-des-Arts, com um ambiente mais discreto mas mais aberto, passava também os filmes que interessavam. Vi lá (e talvez na única sala em que passou em Paris) Les Amants Réguliers, mergulhado nas imagens poéticas de um Maio de 68 de Garrel e das suas relações jovens que se queriam adultas.
O dono do Saint-André-des-Arts, Roger Diamantis, faleceu, deixando o futuro do cinema em suspenso. A cinefilia parisiense fica mais pobre, assim como a ideia de vidas que se dedicam a alimentar as imagens e os sonhos dos outros, de um bairro, de uma cidade, de um mundo.

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