19.7.10

Si c'est un homme

Regresso a Scott Fitzgerald através do último filme de Elia Kazan - The Last Tycoon -, último livro também do escritor americano (e que livro, apesar de inacabado). Se Kazan lida bem com os momentos de paixão entre o protagonista e o seu objecto de desejo (a mulher fitzgeraldiana que enche de esperança qualquer homem e trá-lo, de novo, aos instintos mais imediatos e puros de uma inocência já perdida e que se deseja, em vão, sempre recuperar), é a Fitzgerald quem me agarro mais para o retrato desse herói algo perdido, algo idolatrado, sólido e elegante em pensamento e visão, mas máscara de uma perda com que esmurra no seu desejo. Porque se Fitzgerald nos mostra algo, nesse ponto, é que os homens têm toda a aparência do poder, mas são as figuras por quem se apaixonam que acabam por reduzi-lo, quando sós, a todas as porções da ilusão em que a sua estrutura se construiu, como a casa de praia deste filme montada para uma vida que não se concretiza. Se o silêncio de um homem é o tempo onde ele deixa falar, para si, essa inocência perdida, colada à imagem terrena onde vive e caminha, é aquilo que o permite ser, seguramente, essa matéria que se define como masculina, e que se transforma na aparência de uma frieza ou da expressão de uma violência, tão desenquadrada da sua vontade de ser, de pequeno rapaz que corre atrás de um desejo, da sua imagem e do seu sonho. Se dizem que os homens são todos iguais, serão, nesse caso, todos feitos disto.

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