4.1.10

A minha noite


Haverá filme mais bonito do que este? Um filme cuja sensibilidade com que toca o amor e o destino destes personagens seja mais verdadeiro, honesto, humilde e sincero do que este? Se Deus existe e está nesses pormenores, Deus existe em Ma Nuit Chez Maud pois ilumina todas as fragilidades e expectativas humanas que nelas se colocam. Um filme sobre o desejo e os nossos valores, sobre as linhas onde se pensa, se fala e se actua. Um filme sobre tudo aquilo que nos move e nos dá a ânsia de viver, de irmos atrás da paz que procuramos e criamos como estrutura de vida, e de vivermos a agitação de desafiarmos aquilo sobre que vivemos. Ou como aprendemos a viver por um amor que criamos sobre a ausência, ou na certeza de sabermos que vamos amar alguém para sempre, como porta que abrimos um dia para a recebermos a complexidade de uma existência para a qual nos vamos dedicar.
De tudo isto, e o que quer que a minha vida seja, apenas sei que vi Ma Nuit Chez Maud há pouco menos de um ano e que não houve um dia ainda em que não pensei sobre ele. Parece que tudo o que aconteceu vai lá dar e tudo o que vier virá dali. É difícil explicar, mas é como a certeza que Jean-Louis Trintignant tem quando olha para Marie-Christine Barrault (na personificação da beleza feminina ideal) e diz aos espectadores: "esta é a mulher com quem irei casar". São certezas que vêm poucas vezes na vida e com as quais iremos viver até tarde, muito tarde.

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